quinta-feira, 15 de julho de 2010

Gratificação

Posso dizer hoje que sou um piloto de arrancada, infelizmente, esporte que hoje é pouco reconhecido mesmo levando aos autódromos mais expectadores a arquibancada que em outras categorias.Acompanho vários sites, fóruns, onde várias pessoas lutam para uma maior visibilidade, estou na luta junto com eles.As pessoas que não conhece o esporte sempre perguntam:Qual é o retorno disso??A premiação é em dinheiro??Alguém ganha para correr??
Vou responder por mim, mas acredito que boa parte pensa do mesmo jeito.O retorno é a emoção, a competição, o prazer de escutar o barulho de um motor forte, é brigar com o tempo.Claro!Tudo isso quando não tem uma quebra, essa faz agente pensar e pensar, mas depois tudo volta e a busca pela essa emoção continua.
Ao estar na minha primeira etapa de arrancada, ouvi vários elogios sobre o carro, bonito, bem montado, sempre busquei isso, como arrancada não é uma competição de carros onde eles se tocam, acho válido os carros também chamarem a atenção por sua beleza.A cada elogio que recebia sobre o carro, sentia a sensação de gratificação, aquele seria parte do retorno que a Arrancada nos trás.Na 3ªetapa do ECPA, estava nos boxes jogando uma conversa fora para distrair, quando vejo uma pessoa se aproximando.Quem é ele?Na minha humilde opinião uma das lendas vivas da arrancada. Marcos, mais conhecido como Marcão da Flash.Ele se aproximou, cumprimentou o Magrão que já se conheciam e perguntou:De quem é o carro??O Margrão aponta em minha direção e diz:É dele!Logo o Marcão, estendeu a mão para me cumprimentar e fala:Parabéns!! Lindo carro. Gosto muito de opalas e esse está maravilhoso.E depois de saber que aquela era minha 2ª corrida e já havia cravado 7,4s.Ele estende a mão novamente e repete os parabéns.Pra mim, aquilo foi mais gratificante ainda.A minha equipe falar algo, tudo é muito suspeito, mas um cara de fora, um cara não, é o Marcão da Flash.Putz!!Lembrar que tudo parecia tão longe.Um dos melhores preparadores do Brasil de motor chevrolet 6cc, ali na minha frente e ainda me cumprimentando.Para muitos tudo isso pode ser ridículo, mas para mim que sempre via a Arrancada do outro lado, nas arquibancadas, por revistas, foi o maior prazer apertar a mão de uma das pessoas que faz a arrancada ser um verdadeiro espetáculo.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

3ªEtapa ECPA


Minha ansiedade estava à flor da pele, os dias pareciam não passar, agora com as mudanças feitas, o medo de não cumprir o prazo passou.Mas como nessa vida, tudo é muito complicado, lá vem ele novamente, agora o medo era não melhorar o tempo já que as mudanças feitas seriam para isso.Na minha cabeça e de toda a minha equipe, eu tinha obrigação de baixar 0,3 décimos.
Chegou a esperada semana, segunda-feira fiz a inscrição e dessa vez decidimos ir na sexta-feira, por ser feriado.Agora mais tranquilo, o peso da estréia havia passado, a única coisa que ficava na minha cabeça era os 0,3 décimos. Eu tinha que cravar 7,5. Preparamos o carro para os treinos livres e vou para pista todo empolgado, queria sentir as modificações.Chega a minha vez, alinhei o carro no farol, descendo as luzes enfiei o pé e logo em 1ªmarcha o carro saiu mais de lado como de costume, fui acertando na reta, coloquei a 2ªmarcha e ele sai mais ainda, sem tirar o pé, acerto novamente na reta e ao colocar a 3ª marcha, vem o inesperado e o carro joga a traseira com uma força muito grande ficando virado para arquibancada e indo em direção ao muro.Na hora a única coisa que veio à cabeça foi"não posso bater meu carro, não posso deixar que tudo termine agora".Bem rápido virei o volante para o lado contrário, ele virou em direção ao outro muro e se arrastando de lado, virei novamente o volante e ele voltou a ficar virado para arquibancada, consegui parar no meio da pista, arrastei todas as foto células e konis do caminho. O carro parou, minha perna esquerda não parava de tremer, meu coração estava na boca...Consegui não deixar o carro bater em nenhum muro, na verdade foi a mão de Deus, foi pura sorte.Saí com o carro do lugar, mas sem saber que um pneu tinha saído da roda que ficou comida nas bordas e ficaram marcas no pneu.No resumo, pelo jeito que foi, acredito ter saído no lucro.Obrigado Deus!!!!
Agora era rezar para não ter feito nada no pneu, eu precisava correr, resolvemos tudo, não aconteceu nada com o pneu. Fui então para minha 2ªpuxada nos treinos, pior agora é que o medo se multiplicou, era baixar os 0,3 décimos e esquecer da rodada.Mesmo assim fui em frente, alinhei no farol, luzes descendo, enfio o pé, quando coloco 2ªmarcha, novamente ele joga de lado e dessa vez tiro o pé na hora, alinho na reta e continuo acelerando.Eu tinha que continuar treinando, precisava mandar o medo embora, assim vou para minha 3ªpuxada e consigo fazer 7,8, não melhorei nada, mas as conversas foram que sem VHT o tempo está bom.
Agora é sábado, puxadas oficiais, antes levei o carro até a balança pois seu peso estava completamente desproporcional, acertamos o peso e só esperei a chamada.Assim que anunciou a minha categoria desci para pista confiante, sabia que tinha capacidade de baixar o tempo.Alinhei no farol e mais uma vez esperando as luzes descerem enfiei o pé e antes tenho que dizer:-o bournout foi maravilhoso, como nos sonhos-senti que eu e o carro éramos um único corpo.Na reta e na 1ªpuxada oficial consegui cravar 7,4 fiz um décimo abaixo do esperado.Para um grande susto nada melhor que um grande tempo!!!.Das 3 puxadas oficiais do sábado, andei 2 e foi ao lado de um piloto experiente e nas 2 vezes andei na frente, isso me trouxe mais confiança.No domingo o carro torceu a ponta de eixo na primeira puxada, então minha melhor marca da 3ªetapa foi os 7,4, agora estou mais próximo do record, que por sinal é novo, foi baixado para 7,212.Agora vou me preparar para 4ªetapa...

As mudanças


Descobri o motivo do medo que me acompanhava, o medo era de não servir para a coisa, não ser do ramo... Mas, após 5 puxadas ele foi embora, porque além da minha confiança, a equipe comentou: "O cara é do ramo!!"Após o meu desempenho, as coisas começaram a mudar:Eu deixei de ser apenas um cliente e passei a ser um Piloto da equipe ALLEN.
Na 2ªetapa, o Magrão já tinha avisado que algumas coisas no carro teriam que ser modificadas, como por exemplo, relação de diferencial e cambio e afinação do motor que estava com o ponto atrasado.O medo agora era não conseguir fazer todas as modificações antes da 3ªetapa, mas esse medo passou muito rápido, vi a equipe toda se esforçando ao máximo para cumprir o prazo.Senti que"agora somos uma EQUIPE".

A estréia


Tudo muito bonito, mas, tinha que testar o carro em uma corrida, decidimos, a estréia seria no ECPA, seria a 2º etapa do ano, hotel reservado, inscrição feita, o medo estava em mim, afinal, não tinha andado com o carro, nem havia entrado nele, na minha cabeça a única coisa que pensava era:
-Será que é isso mesmo??
Não sei porque, depois de enfrentar um monte de coisas, gastar uma fábula de dinheiro, porque ainda vem essa incerteza, porque não estava completamente feliz??Seria o medo de não servir para a coisa?? Só passava essas coisas, fiz de tudo, e o esforço de todos que ajudaram montar o carro, tudo bem!Eles foram pagos para isso! Mas fiquei pensando, todo o seu trabalho sendo disperdiçado, e os amigos e a minha esposa que me ajudou, me deu incentivo, como ficaria essas pessoas e no fim de tudo, como eu ficaria?????
O Rogério e o Magrão, os dois leram a bíblia da arrancada pra mim, foram tantas informações, tentei ao máximo assimilar todas aquelas informações, o medo, continuava comigo.
Chegou a hora!
Fui fazer meu primeiro treino, essa era minha primeira corrida, a primeira coisa que falei foi:-Vou dar uma puxada de leve para sentir o carro e fazer o reconhecimento da pista!Precisava saber como funcionava aquele bendito farol, quando estamos de fora, não passa de algumas luzes acendendo e apagando em uma sequência, mas quando estamos ali dentro, aquela sequência faz muito a diferença.
Fiz o reconhecimento da pista, tudo correu muito bem, o sentimento de estar pilotando um carro de arrancada, continuava sendo inexplicável, mas ainda, aquele medo estava do meu lado.Todas as pessoas experientes me diziam:-Relaxa, esse final de semana é apenas para sentir o carro, na minha cabeça, era complicado assimilar isso.Passei a pensar:Bom!Acho que vou fazer o trecho em uns 9s, sendo que o record da categoria é 7,257, feito pelo piloto Luiz Fernando Bonacorso.Fiz o levantamento de todos que iriam correr naquele dia, todos os pilotos tinham mais de 2 anos de arrancada, ou seja, eu estava correndo entre pilotos experientes.
Estava nos boxes, ouço o locutor chamando:Tração traseira original, alinhar saída de boxes!
O gelo e o medo aumentaram, chegou a hora da verdade.Eu totalmente gelado, entrei no carro, funcionei e fui levando em direção a pista, estava totalmente concentrado. Chega a minha vez, vou fazer meu primeiro Bournout(esquentar os pneus), tinha que usar o tal do botão line lock, aquele que segura os freios, fiz o bournout daquele jeito, sem graça, nada como imaginava, alinhei o carro no Pré Stage, em seguida no Stage, as luzes acenderam e enfiei o pé. No fim da reta, quase não conseguir parar - quem acelera ou acelerou no ECPA sabe o que é o fim daquela reta, vem uma ladeira com pouco espaço para frenagem- segui em direção para pegar meu tempo: pego o papel amarelo todo atrapalhado e vejo 8,0 segundos cravados, na minha primeira puxada.Senti uma sensação de alívio, o medo foi embora.Naquela hora, senti: fiz a coisa certa, é isso mesmo!!!!Realmente, sou apaixonado por Arrancada.Ao chegar nos boxes, todos me comprimentaram, via na expressão deles, também aquela sensação de alívio, fiquei mais confortável.Nesse dia, sábado, minha marca continuou nos 8s, mas, eu sentia que poderia diminuir, acho que só eu acreditava nisso.Comentei com minha esposa, ela disse:Tá todo mundo falando que está bom, pela sua primeira corrida, vc está bem!Eu tinha certeza, ela falou aquilo para eu não ficar encanado, ou melhor, não me decepcionar comigo mesmo.
Chega o Domingo, vou para a pista, estava totalmente concentrado, não conseguia ver o carro do lado, as pessoas na arquibancada, a única coisa que conseguia enxergar era o farol e aquela reta, alinhei o carro, quando desceram as luzes, enfiei o pé sem dó, acelerei até o fim, claro que nada perfeito, mas o mais importante é que cravei 7,8s, o tempo próximo que o Magrão falou que o carro poderia chegar.Quando peguei o tempo, não aguentei e as lágrimas começaram a correr, lembrei das dificuldades, lembrei do quanto eu babava nos carros em Interlagos, lembrei de quanto eu sonhava. O meu dia chegou, demorou alguns anos mas chegou, o sonho estava realizado.

Extâse




Estava trabalhando, era final de tarde, sexta-feira dia 07 de maio, meu celular toca, vejo o número da oficina, na linha o Rogério e logo solta a seguinte frase:
-O carro está pronto, só ligar!!!!!!!
Meu coração dispara, não sabia o que falar ao telefone, fiquei algum tempo em silêncio e lembro de ter dito:
-Já estou a caminho!
Ao chegar na oficina e ver o carro inteiro montado, pronto, senti uma sensação de medo, pensei, pensei, não estava acreditando, agora só faltava ver funcionando, meu coração ficou disparado, o frio na barriga era intenso, estava com uma ansiedade enorme.
O Magrão(preparador) diz:
-Só tem uma coisa!
-Qual coisa?Pergunto eu, quase sem conseguir falar direito.
Ele:
-Não ligo o carro a primeira vez com o dono por perto...
Aquilo pra mim, foi um balde de água fria, tive uma sensação horrível, mas pensei:-Vou fazer o que?Cada um com a sua mania, vou respeitar!
Sai em direção ao escritório, fiquei sentado, pensando sei lá o quê, tentando respeitar, quando de repente ouço aquele barulho lindo, majestoso, barulho que para quem gosta é melhor do que qualquer sinfonia, fui em direção ao carro, segurei as lágrimas, pois esse momento foi esperado por um pouco mais de 20 anos, os sentimentos foram se misturando, entrei naquele extâse total.Uma das melhores sensações que senti!

Nascendo opala 56












Depois de pintura e funilaria pronta, começa o nascimento do opala de arrancada, seu número 56, sua categoria Tração Traseira Original (opala TO56).A mecânica ficou aos cuidados do experiente Magrão, preparador da oficina Allen, fez a lista das peças desejadas, fiquei com a responsabilidade de entregar em mãos, para começar o preparo do coração forte.Foi um pouco mais de 1 ano para adquirir todas as peças da lista, não foi fácil, aí entra um grande amigo(Ricardo) vulgo Azul, ele me ajudou demais na busca das peças e melhores preços.
Ao juntar todas as peças, pensava que o mais difícil havia passado, foi quando descobri que começava realmente a parte mais difícil, conseguir construir um carro realmente a altura, ou seja, um carro que seria competitivo.
Quase 1 ano de montagem, não conseguia ver a hora de realmente fazer ele funcionar e entrar em extâse com o barulho do meu próprio carro.

Nova identidade


Aquisição feita, mas o carro tinha várias coisas que me incomodavam, então, decidir desmontar tudo e fazer o carro no qual imaginava.





Encostei o carro na oficina ALLEN, tudo ficou na responsabilidade de Rogério Rascio, proprietário da oficina, ele tinha a responsabilidade de fazer o sonho se tornar realidade.
Passei em detalhes como queria o carro, ele entendeu perfeitamente e colocou o projeto na prática.


Foi feita a funilaria necessária, o carro estava pronto para ser pintado, na pintura tive a ajuda de uma grande pessoa Fernando Leme, com toda a sua experiência em tintas, conseguimos desenvolver a cor dos sonhos.

Sonho


Tudo começou na década de 80, saia da zona leste rumo a interlagos, ver aqueles carros acelerando me fazia viajar, escutar o barulho de um motor 6cc, me deixava em extâse, não consigo nem expressar em palavras, era algo mágico.Toda vez que via aqueles opalas, sempre falava para mim:
-Um dia vou ter o meu!
Os anos foram passando e a vontade continuava dentro de mim sempre forte.No começo de 2008 consegui adquirir meu primeiro opala antigo, no dia da aquisição, sabia que iria começar a realizar o meu grande sonho.